sábado, 27 de fevereiro de 2010

ESTRANHO FUNERAL

Trajou-se toda de preto. Trancou a casa inteira. Não queria ver ninguém. Estava desolada e chorava desconsoladamente diante daquele ser que um tivera vida e que tanto a amou também.
Ficou a contemplá-lo por alguns minutos, completamente mergulhada em lembranças. Depois, cerimoniosamente, ajoelhou-se, apoiando-se no sofá, e debruçou a cabeça no braço direito, chorando. Sentiu os pingos quentes das lágrimas penetrarem o tecido fino da manga da blusa, escorrendo em sua pele.
Alguns minutos depois, enxugando os olhos com as costas da mão direita, deu por encerrado o funeral e encaminhou-se para o quintal da casa, onde ela mesma cavou a sepultura.
A noite caía.
Uma chuvinha fina banhava as folhas das plantas do jardim, tornando-as ainda mais pesadas com o vento que soprava de vez em quando.
Toda molhada, ela voltou para a sala, agora completamente mergulhada na escuridão. Somente o silêncio fazia companhia a ele. Olhou-o longamente. Sentiu a sua imobilidade mortal. Mais uma vez, lágrimas encharcaram os seus olhos vermelhos de tanto chorar.
Em seguida, ergueu a caixa de sapatos onde o seu estimado gatinho jazia e, contra a vontade, foi enterrá-lo.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

AMIGA É PRA ESSAS COISAS?

A colega de quarto ouviu o quebra-pau da outra com o namorado. Ouviu ameaças:
- O quê? Vou aí agora! Quero ver se você tem coragem de me bater!
Viu a outra pegar a bolsa e sair apressada, batendo a porta.
Horas depois, voltou mais calma. Olho roxo, descabelada e braço direito engessado. Sentou com dificuldade na cama, gemendo de dor.
- Veja amiga, o que me aconteceu...
A outra não a esperou concluir a frase e correu para o celular. Virou-lhe as costas e digitou rapidamente um número, falando mais apressada ainda. Em seguida, desligou o telefone, aconselhando à amiga de braço quebrado.
- Fique tranqüila agora. A polícia vai lá na casa dele. E nós duas, vamos à delegacia de mulheres. Ele não podia ter feito isso com você. Não se bate em mulher! Agora temos leis pra nos proteger!
- Quê? Quem bateu em quem?
- Aquele canalha do seu namorado!
- Quê? Ficou maluca? Você chamou a polícia? Achou que foi meu namorado que... ?
- Não foi?
- Nossa, que estrago você fez!
- Tentei te ajudar.... fiz estrago?
- Claro! Saí daqui nervosa, discuti com ele. Acabamos fazendo as pazes. Quando ia voltando pra cá, começou a chover... Enfiei o pé num bueiro aberto e caí. Quebrei o braço. Ele mesmo me levou ao PS...
A outra, tomando consciência do que havia feito, confusa, correu de um lado a lado do quarto.
- Meu Deus!!! E agora...?


rubomedina@oi.com.br

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

CORAÇÃO ACELERADO

Coração acelerado, respiração ofegante
Amor sinalizando, chegando... chegando...
Brindemos o amor.

PERFUME DA NOITE

Sopra a noite. O perfume banha o luar.
E eu aqui, te olhando nos olhos
Desejo de te beijar.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

REDENÇÃO

A ti, Senhor, rogo perdão!
E os teus braços me acolhem.
És a minha salvação!

PARA O MEU FILHO

Anjo amado, contigo sou tão feliz...
Se ti não consigo mais viver.
És o sol que ilumina os meus dias.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A PONTE

Sem que percebesse
Ergui uma ponta nos meus dias.
De um lado, sou o passado:
Bons momentos que afloram doces lembranças.
Do outro lado, o futuro.
Incerto?

O que me impede de atravessar a ponte?
De romper as barreiras que formam as prisões?
É o “meu” momento?

Olho para trás.
Estou nas amarras das lembranças.
E vejo aqui o meu presente.

Conto os dias...
Vislumbro o futuro que anseia em me envolver
Nos seus braços.

Onde estou, afinal?
Em qual extremidade da ponte depositei os meus anseios?

O meu momento:
(Como se cada minuto pudesse escapar de mim).
É a ânsia de contar os meus dias
Como se colecionasse pérolas.
É mirar o horizonte
E desejar que nuvens sejam mais efêmeras.
É não poder contar as estrelas.
Que escorrem infinitas em caudas pelo azul do céu.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

BANHO DEMORADO
Telefone toca. Criança de 7 anos atende.
- Chama sua mãe, filho!
- Ela tá tomando banho!
- Menino, faz duas horas que liguei e você disse que sua mãe estava no banho!
- Papai, que posso fazer se ela saiu e me disse: “Se alguém ligar, diga que tô tomando banho!”
ELE ENGANOU A POLÍCIA
Depois da compra dos ingressos, os jovens tinham que pegar uma fila quilométrica para entrar na Quadra. Impacientes, eles estavam já algum tempo esperando que as portas se abrissem e o som botasse pra quebrar. Ia haver um atraso, alguém disse, mas não explicou a causa. Mesmo assim, o baile fanque prometia...
Repentinamente, surgiu um comboio de carros e motos da Polícia, vindo direto para o estacionamento. Um ônibus vinha atrás. Os policiais faziam manobras, estacionando por todo lado. Era a primeira vez que ele via aquela Operação e ficou bastante assustado. Quase engoliu o chiclete e quase entrou em pânico. Como era um dos últimos da fila, raciocinou rapidamente e decidiu manter a calma.
Os policiais, à medida que iam estacionando, gritavam com determinação:
- Mãos na parede! Revista!
Ele foi um dos primeiros a obedecer à ordem. Discretamente, cuspiu o chiclete no chão. Pisou no chiclete. E mais discretamente ainda, tirou algo do cós da cueca e jogou perto da parede. Com a goma colada na sola do tênis, ele pisou na coisa. Feito! Estava pronto para a revista.
Ergueu os braços e baixou os olhos para certificar-se de que na sola do tênis nada podia ser visto.
Os policiais avançavam, revistando um por um. No mesmo instante em que a revista estava sendo realizada, os portões da Quadra se abriram e os jovens começaram a entrar. Nem todos tiveram a mesma sorte. Alguns foram detidos e encaminhados para o ônibus estacionado na rua.
Quando chegou a sua vez de ser revistado, um policial usou os mesmos procedimentos. Apalpo-o por toda parte, remexeu, quase o virou pelo avesso. Não encontrando nada, disse:
- Liberado!
Ele seguiu lentamente, erguendo um pouco mais a bermuda frouxa que havia descido. Andava sem pressa. O que estava colado na sola do tênis não conseguiu estragar a sua noite na balada, que prometia...
MICROCONTOS N. 01
VAI SABER QUEM ERA!
Separaram. Nesse meio tempo, telefone tocava. Ela atendia, desligavam. Marido volta. Telefone toca. Desligam. Enciumado, ele some outra vez.


A OUTRA QUE NÃO ERA “A OUTRA”
- Na partilha, dividimos a herança com mais 7 irmãos. – Entendo sra. Seu pai tinha outra. – Tinha. Mamãe não conseguiu separá-lo da esposa!


AMIGOS... AMIGOS.
Ela já não o amava, mas não queria perdê-lo. Ele decidiu sair de casa. Ela implorou pra que ficasse. Ele ficou. Hoje são grandes amigos.


COISA DE ANTIGAMENTE: "SE PERDER..."
Mamãe dizia! “... meu medo é você ir pra capital e se perder.” Coitadinha. Ela não sabia que o vaqueiro já tinha me “achado” há muitos anos.
NÃO DEU CERTO
(LOJA DE PERFUMES IMPORTADOS NUM GRANDE SHOPPING. TARDE DE SÁBADO. UMA MULHER DE UNS 25 ANOS, LOURA E ESGUIA, VESTIDO VERMELHO JUSTÍSSIMO, COBERTA DE JÓIAS, CHIQUÉRRIMA, FAZENDO COMPRAS)

- Mais alguma coisa, senhora?
- Não, obrigada. Comprei demais. Chega!
Diz, entregando à vendedora um cartão de crédito.
- Senhora, esse cartão está no nome de...
- Eu sei! É meu marido! Está ali fora!
Comenta. Depois, numa atitude que se pode classificar de infantil, coloca dois dedos na boca e dá um assovio agudo. Um homem, aparentando três vezes mais a idade dela, muito bem vestido também, que observa a vitrine de uma loja de sapatos, se volta. A mulher sorri e fala com a vendedora no exato momento em que esta tira as mãos dos ouvidos.
- Ele já vem!
O homem entra na loja. A mulher vai ao seu encontro e quase esbarra numa Policial que acaba de entrar também. A loura o detém, empurrando-o energicamente para um canto. Os dois iniciam uma discussão. Só se percebe que estão se desentendendo pelo gesticular irritado do homem e das ponderações da esposa. A vendedora tem a impressão de que ouviu uma frase entrecortada:
-... quê isso? ... ficou muito caro...
A Policial está encerrando a compra, quando de lá mesmo a mulher a interrompe, dirigindo-se à vendedora:
- Querida, me espera um segundinho? Meu marido é um chato, disse que gasto muito. Vou conversar com ele. Deixe tudo separadinho, ok? Já volto!
Dá três passos na direção da saída, puxa o homem pela manga da camisa. Os dois saem apressadamente da loja e se infiltram na multidão:
- Essa foi por pouco! Ainda bem que forjamos a discussão! E se a Policial desconfiasse? Você com esse cartão falso. Foi sorte! Mais cuidado da próxima vez, ouviu, maluca?

Uma hora depois, a gerente da loja, vendo que a cliente não retorna, diz à vendedora:
- Pode ir lanchar! Se ela voltar, eu atendo!
- Tá bom! Não demoro!
Na lanchonete, a vendedora encontra uma velha amiga de pré-vestibular e demora mais do que o previsto, colocando o papo em dia. Quando retorna à loja por um outro corredor, vê três policiais saindo de uma joalheria. Estão conduzindo um casal: uma mulher de uns 25 anos, de cabelos curtos e negros, esguia, trajando vermelho, coberta de jóias.... Chiquérrima. E um homem que aparenta ser avô dela.
A moça não daria importância ao fato se não reconhecesse a mulher. Aquela que assoviou feito criança, que comprou uma fortuna em perfumes na sua loja, que discutia com o marido. Outro detalhe que lhe chamou a atenção: de vistas baixas, a mulher tentava esconder debaixo do braço uma peruca loura.